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quinta-feira, 1 de abril de 2010

TEATRO PROIET-VISÃO, META E PERSPECTIVA.

Vivemos num contexto que estimula o individualismo e a competição. A todo instante e de todos os lados, recebemos mensagens e até mesmo pressões para nos preocuparmos principalmente com nossos interesses e para considerar os outros como adversários. Para sermos continuamente competitivos, acabamos nos tornando individualistas. Com isto, manter um comportamento ético e solidário, muitas vezes, torna-se difícil. O respeito às diferenças e aos direitos individuais não têm espaço e a vida torna-se uma aventura perigosa.
O trânsito reflete esta crise de valores. Diante do mito do carro, objeto símbolo de poder e status, o ser humano fica relegado a um segundo plano. O carro passou a ser o dono das ruas e o homem faz tudo para possuí-lo. O ser humano deixou de ser senhor para ser servo da máquina: o homem vale a potência de seu carro e sua habilidade ao volante. Nesta segunda posição, as diferenças sociais demarcam ainda mais o valor do ser humano como cidadão. Neste sentido, o contexto do Sistema de Transporte aprofunda e destaca as questões éticas associadas ao valor do homem. O trânsito é palco que revela o individualismo, a impunidade e a falta de solidariedade.
A mídia reforça os valores de competição, risco e hedonismo desmedido, colaborando para uma conduta irresponsável e agressiva. O prazer de "correr risco" é valorizado como comportamento jovial e "contestador". A alta velocidade é veiculada como sinônimo de "liberdade" e poder. O "outro" é quem deve ser sempre culpado, independentemente das circunstâncias. Desta forma, sob a perspectiva da antropologia social, o automóvel torna-se símbolo da violência .
A rua se transforma em arena de disputas, onde vale a "lei do mais forte". O resultado desta batalha diária é o elevado número de acidentes e mortes no trânsito que destrói vidas e esperanças de muitos. Esta situação é muito mais dramática quando ocorre com as crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, que morrem mais pelo trânsito do que por qualquer outra doença, violência ou acidente: o carro tornou-se o predador de crianças e adolescentes .
O desrespeito às regras de trânsito, o uso de bebidas alcoólicas ou drogas, entre outros motivos, têm sido apontados como as principais causas de acidentes de trânsito. Entretanto, o cidadão e o Estado têm responsabilidades por esse trânsito caótico e desumano. Se por um lado, os motoristas contribuem com uma parcela significativa dos problemas do trânsito e a população não conhece ou não exige seus direitos, por outro, falta ao Estado vontade política em tratar devidamente o assunto. Estas causas são derivadas do comportamento de indivíduos e instituições, mas podem ser entendidas também como reflexo de um sistema social que ciclicamente as perpetuam.

Ações educativas que promovam a formação de atitudes podem contribuir para um trânsito mais humano, melhorando a qualidade de vida. Entretanto, a visão fragmentada de homem e de mundo tem influenciado a ação dos educadores de trânsito brasileiros ou estrangeiros, que formulam seus objetivos sem ouvir a criança e o adolescente, sem compreender sua vivência e sua percepção sobre a realidade do trânsito. Enfatizam também o ensino de regras e o treinamento de habilidades como únicas formas de atingir o objetivo de reduzir o envolvimento em acidentes. Consideram um ambiente ideal, em termos de sinalização e de comportamento das pessoas.
Abordagens pedagógicas do TEATRO PROIET
É preciso que as crianças e adolescentes tragam suas experiências. Um "transitar" no mundo real, com seus problemas, incoerências, violências e situações bem sucedidas, fornecendo instrumentos e atividades que favoreçam a sensibilização, a reflexão, a discussão, a análise e a conscientização, exercitando a condição de cidadãos éticos e solidários.
Neste sentido, foram utilizadas neste portal três abordagens pedagógicas propostas pela direção para que se consiga atingir a principal meta da Educação para o Trânsito - a redução do risco presente nas vias:
• A Construtivista ,para tornar o aluno ativo em seu processo de educação, onde serão considerados seu ponto de vista, sua percepção e suas expectativas;
• A Sócio-Cultural , para promover a cidadania por meio da análise de situações reais do trânsito e da reflexão sobre as conseqüências da liberdade dada ao transporte motorizado individual no aumento do risco de acidentes de trânsito;
• A Holística ou educação em valores humanos , para que o aluno vivencie experiências solidárias e cooperativas na sala de aula e no trânsito, bem como para que transforme sua visão fragmentada em visão integradora de mundo.
Esta concepção enfatiza que o aluno deixe de ser apenas um memorizador das regras de trânsito, pois ele é um ser em desenvolvimento e se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto de conhecimento (o trânsito) e se formando como sujeito (cidadão). Buscou-se também a construção de uma prática pedagógica compatível com a formação global dos alunos, objetivando não somente a redução dos acidentes, mas a redução dos riscos presentes nas vias.
A construção do conhecimento acontece de maneira significativa quanto mais o aluno está envolvido em um processo que adota uma abordagem integradora, a qual inclua, além dos conteúdos do tema em si, os problemas contemporâneos, os interesses do aluno e sua vivência. Trabalhar o tema trânsito nessa concepção, permite que os alunos analisem os problemas, as situações e os acontecimentos em sua globalidade, utilizando, para isso, os conteúdos do tema e a sua experiência.
Na Educação para o Trânsito atualmente aplicada, é comum as crianças e adolescentes receberem os conteúdos a partir de conceitos abstratos, de modo teórico e muitas vezes desvinculados de sua realidade. Na nossa proposta, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmos e passam a ser meios para ampliar a formação dos alunos e sua interação com o mundo em que vivem, de forma crítica e dinâmica.
Há o rompimento com a concepção de "neutralidade" do tema trabalhado, que passa a ganhar significados diversos, a partir das experiências sociais dos alunos.
Nessa concepção, a Educação para o Trânsito propõe uma nova abordagem e se insere na exigência de repensar a prática pedagógica atual. Propõe também um caminho para transformar o espaço escolar em um espaço aberto à construção de aprendizagens significativas para todos que dele participam.
Para reduzir o risco presente no sistema de tráfego, o PROJETO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO criou condições para que os educadores possam atuar simultaneamente nestas três dimensões: tornar o aluno ativo em seu processo de construção do conhecimento, desenvolver o potencial de reflexão crítica do aluno e possibilitar a vivência da solidariedade e da cooperação na escola e no trânsito, porque conhecimento se constrói, potencial humano se desenvolve e valor se vive. Não há discurso capaz de ensinar valores, é preciso vivê-los .
Nossa expectativa com o Teatro Proiet nas escolas
A postura é fundamental para o sucesso da proposta. Se o educador não se portar segundo esta recomendação, estará fazendo uma educação tradicional, pois pouco adianta ensinar desta forma conceitos sobre postura ética, solidária e cidadã no trânsito. Educador e aluno devem compartilhar experiências e sentimentos, dividir temores indignação e esperanças, experimentar sensações de empatia com aqueles que sofreram com a violência no trânsito. Ao desenvolverem a empatia com o pedestre, a partir dos relatos das opressões sofridas, espera-se que o aluno não reproduza esse papel de opressor no futuro, quando for um motorista.
Assim tocados, espera-se que as crianças e os adolescentes desenvolvam habilidades e atitudes para que, no futuro, influam mais diretamente no processo de melhoria de sua qualidade de vida, bem como contribuam para a formação e a consolidação de valores compatíveis com um trânsito mais humano.

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