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sábado, 7 de agosto de 2010

Indústria das multas ou irresponsabilidade no trânsito?

Radares nunca multam os motoristas disciplinados
A mídia ocupa-se, freqüentemente, de três problemas relativos ao trânsito: os acidentes com vítimas fatais, os flagrantes de desrespeito à legislação e os veementes protestos de motoristas quanto à "indústria das multas" oriunda da instalação de inúmeros radares em avenidas e estradas.
Nunca estarei nesse último grupo, porque fui penalizada menos de dez vezes, em 34 anos de volante, e reconheci sempre que tinha mesmo transgredido alguma norma. Merecia, então, a punição do Estado, pois ela era, sobretudo, uma advertência, tal como as repreensões paternas, de que havia assumido riscos passíveis de danos, talvez irreparáveis, a mim ou a outras pessoas.
Em todas as ocasiões, fiquei constrangida e concluí que precisava ser mais cautelosa, principalmente quando estivesse com passageiros, pois suas vidas estariam em minhas mãos. Atualmente, não me preocupo com o correio, diante da remota possibilidade de receber detestáveis avisos do Detran, mas não tenho segurança para dirigir em estrada, ao presenciar procedimentos absurdos cometidos por muitos motoristas, mesmo quando estão transportando seus filhos.
Existem algumas madames arrogantes e mocinhas irreverentes que insultam guardas de trânsito e agem como se todos estivessem nas vias públicas para servi-las. Os homens constituem, entretanto, a maior parcela do contingente que não se acanha de transformar cada deslocamento dos brasileiros numa terrível aventura e, algumas vezes, em tragédia real. Esse grupo é formado pelo jovem onipotente, o senhor de 30/35 anos muito experiente em volante e manobras próprias de campeões, o empresário com pose de dono da estrada, o caminhoneiro calejado pela exposição diária ao perigo, o taxista aflito para livrar-se de seu passageiro e conseguir outro, o condutor de ônibus em extenuantes jornadas de trabalho e o lavrador com seu veículo em péssimo estado de conservação.
São todos aventureiros que desafiam as leis da física e o bom senso em ultrapassagens indevidas, velocidade incompatível com a pista e o tráfego, pressão sobre o motorista da frente, "costura" entre as diversas faixas, desprezo pela sinalização, uso de celular e muitas outras infrações com previsíveis conseqüências para ganhar alguns minutos no trajeto ou demonstrar que entendem bastante de carros, mecânica e estradas.
É lamentável perceber que eles não se consideram transgressores da lei e comprometedores da ordem social, podendo tornar-se homicidas a qualquer momento. Pelo contrário, assumem uma identidade de pessoas de bem, com autoridade suficiente para recriminar políticos corruptos, clamar contra assassinos e solicitar mais empenho do Estado para eliminar a violência que vem comprometendo severamente o bem-estar dos brasileiros. Sua incoerência é tão nítida que aceitam, plenamente, as câmeras de circuito interno em seu edifício ou em sua empresa para garantir sua vida e seu patrimônio, mas desmoralizam os radares, questionando sua legalidade quando são flagrados acima do limite estabelecido.
Essa ferramenta nunca expede, entretanto, multa para os que se mantêm dentro dos parâmetros da sinalização ou do bom senso. Motoristas disciplinados pedem, pelo contrário, mais fiscalização, porque querem assegurar seu direito de ir e vir sem qualquer sobressalto. Desejam também que isso aconteça com seus pais, seus filhos e seus amigos, pois a morte no trânsito é sempre evitável e gera um sofrimento atroz para os sobreviventes.

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